sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Pra não dizer que não falo de amor

Do dicionário: Amar, v. tr. dir. Ter ou sentir amor, estar enamorado, estar apaixonado - Sofre muito quem ama.

Amor, sem as definições do dicionário que costumam ser conservadores, que nos dão apenas as definições duras e tesas das palavras, mas com a minha pobre definição apenas, é negação.
Se amar pode ser afirmação da existência de amor, esse antes de mais nada é negar.
É optar por renunciar coisas que o amor do dicionário não ousa renunciar.
Se na língua portuguesa (lembrando que sou leigo em etimologia) a letra 'A' na frente da palavra significa ausência de algo e a palavra 'mor' em linguagem poética significa maior, posso eu acreditar (se quiser) que amor é ausência de grandeza, é ausência da necessidade de ser superior. Amar é ser um tanto quanto menos egoísta ou ganancioso.


Ama a arte aquele que a coloca acima de si próprio.
E a faz com excelência aquele que a ama.
Aquele que toma o humilde cuidado de forjá-la com as próprias mãos, que valoriza o sofrimento de fabricar algo que o sentido ultrapasse a compreensão humana.
Um livro não traz apenas as mensagens que suas palavras carregam. Há para o verdadeiro artista algo muito maior que isso, nas entrelinhas da obra.
Há numa pintura, um sem número de cores imperceptíveis aos olhos, mas que o artista as coloca cuidadosamente em seus lugares e só a própria alma dele saberá reconhecê-las.
Em cada acorde de uma composição musical há uma sofreguidão, uma avidez por fabricar o maior, que é finalmente tida como prazer no momento em que tal obra de arte é apreciada pelos ouvidos do próprio artista.
E nos gestos que o ator construir sempre deverá haver a compreensão de que aquilo que está no palco é algo acima dele, a personagem seja ela quem for, é sempre mais importante que a figura e a estética do corpo do ator. Há na construção de uma personagem um sentimento inexplicável de descontentamento com qualquer resultado que não oculte a sua "auto-figura", há uma corrida por entre espinhos, prazerosa, beirando o sadismo, em busca da figura que deverá ser a nova inquilina do corpo do ator. Há um desprezo às suas maneiras, aos seus trejeitos. A ator deve nunca amar mais a sua figura debaixo dos holofotes do que a figura absoluta da personagem. É um "desamor" a si próprio substituído pelo amor à alguém que nunca se viu e em verdade nunca existiu. É sofrer pra criar e amar o que cria.

É a arte de se colocar como serviçal daquilo que mais ama.
Amar a arte é ter a humildade, o desprendimento necessário para nunca encontrá-la perfeita ao terminá-la e se dar o trabalho de começar de novo, sempre rumando a perfeição, embora carregando na alma a certeza de que jamais a alcançará.
É colocar-se mediante o julgo alheio, estando sujeito a todas as formas de críticas e mesmo assim entregar-se.

Se amar pode ser afirmação da existência de amor, esse antes de mais nada é negar.
Amar é ser um tanto quanto menos egoísta ou ganancioso.
Ama a arte aquele que a coloca acima de si próprio.
E a faz com excelência aquele que a ama.


(Peço perdão aos estudiosos de linguística e etimologia que consideraram uma ofensa à língua, a minha análise da palavra amor, como disse, essa é livre de regras e foi criada apenas por mim e minha mente libertinosa)

4 comentários:

  1. Lembra-me Oscar Wilde. Animal, é uma excenlente reflexão. Reflexões do tipo Wilde que só vc consegue fazer.

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  2. A arte de desmontar a si mesmo para construir o outro de si mesmo.
    Lindo, perigosamente, lindo.

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  3. (ser artista)é..deixar teu corpo e viver a tua alma. Viver cada milímetro vivo de sua expansão. Criar, Fazer-(se). Esqueço de existir quando meu eu-artista se vai. Volto a respirar assim que morro, e o artista sai.// pereira-eu.

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  4. É impossível amar a arte sem amar a humanidade!
    Aí é que está o perigo dos artistas!

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Música Livre - Consciência - Galdino