domingo, 31 de janeiro de 2010

Revoluir

De quantos passos afinal precisamos pra estarmos do outro lado?
E por que sempre que chegamos ao outro lado, o outro lado passar a ser o lado que acabamos de deixar?
Não foi ontem que eu aprendi que bastava apenas um pau pra se fazer uma canoa e que é a jangada que é feita de vários troncos amarrados por um cipó.
Afinal de quantos tombos precisamos pra aprender a andar?
Quantas palavras pela metade, dizemos até aprendermos a falar?
Quantos lápis coloridos nós perdemos ou esquecemos debaixo da carteira na escola?
Não foi ontem que fiquei de castigo no canto da sala pela primeira vez.
Não é de hoje que se sabe que deus é um mistério, que não foi "feito" pra ser entendido.
Há muito já é sabido que o que se sabe foi feito pra isso e o que não é também foi.

E se falarmos de evolução?
De quantas dores nas costas o homem precisou pra aprender a andar ereto?
Quantas indigestões ‘ele’ teve, até resolver cozinhar e temperar a carne?
Quanta morte fabricou e sofreu até dominar o mundo?
Quantas teorias foram necessárias para ensiná-lo que deve dominar e subjugar os outros?
Quanto massacre precisou cometer pra dominar outros povos, e construir seus ideais hegemônicos?
E quantos massacres o homem atual precisou cometer pra consolidar e continuar a briga por essa hegemonia?
E de quantas desgraças propositadas precisou para acontecer a "evolução" do homem?
De quanto tempo precisamos pra nos livrarmos de todas essas convicções e, darmos nós mesmos, mais um passo para a evolução?

A evolução do ser humano, enquanto ser sensível e pensante consiste apenas em, afastar-se do restante do mundo, trancar-se dentro de si por alguns instantes, revirar todos os anseios e valores adquiridos ao longo da vida e pensar: eu realmente preciso fazer tudo o que estou fazendo?
Pra evoluir é preciso repensar todas as convicções, crenças e direções.
Reciclar os sonhos abandonados. Reinventar tantos costumes e manias.
Reconhecer a si mesmo, no sentido literal da palavra, de revisitar os "lugares internos" visitados antes e não desvendados por inteiro, ou talvez desvendados, mas que se modificaram sem terem sido percebidos.
É linda a possibilidade de mudar.
Reinventar todas as metas que no fundo não são necessárias e que não condizem com a alma pulsante que há em cada um.

Questionar a ordem das coisas é muito mais que uma questão de subversão ou marginalidade.
Questionar é uma questão de evolução. A evolução do caráter e da convicção, dos rumos humanos.
Questionar é planejar fabricar uma nova estância, um novo destino, um novo caminho.
É o primeiro passo a se dar a caminho da revolução e revolucionar é apenas uma forma de
reinventar a maneira das coisas evoluírem.

Pra questionar é necessário se reinventar, se redescobrir, entender o mundo em que estamos, e para isso entender antes quem somos, e o que fazemos de realmente necessário aqui. E então passarmos a fazer o novo, fazer as coisas da forma 'neo-nata'.
Fazer de fato a conversão imaginada no momento de reflexão interior e daí então evoluir.
Construir um mundo novo.
Pra construir uma nova ordem é necessário evoluir a si mesmo, é o primeiro passo.
É descobrindo quem se é, que se entende o mundo em que se está e se descobre a podridão que mantém este 'vivo' e se inventa a forma de derrubá-lo e reconstruí-lo.
Reinventar as coisas é necessário e se faz urgente.
Mas antes é necessário evoluir e a evolução do ser humano consiste apenas em afastar-se do restante do mundo, trancar-se dentro de si por alguns instantes, revirar todos os anseios e valores adquiridos ao longo da vida e pensar: eu realmente preciso fazer tudo o que estou fazendo?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Pra não dizer que não falo de amor

Do dicionário: Amar, v. tr. dir. Ter ou sentir amor, estar enamorado, estar apaixonado - Sofre muito quem ama.

Amor, sem as definições do dicionário que costumam ser conservadores, que nos dão apenas as definições duras e tesas das palavras, mas com a minha pobre definição apenas, é negação.
Se amar pode ser afirmação da existência de amor, esse antes de mais nada é negar.
É optar por renunciar coisas que o amor do dicionário não ousa renunciar.
Se na língua portuguesa (lembrando que sou leigo em etimologia) a letra 'A' na frente da palavra significa ausência de algo e a palavra 'mor' em linguagem poética significa maior, posso eu acreditar (se quiser) que amor é ausência de grandeza, é ausência da necessidade de ser superior. Amar é ser um tanto quanto menos egoísta ou ganancioso.


Ama a arte aquele que a coloca acima de si próprio.
E a faz com excelência aquele que a ama.
Aquele que toma o humilde cuidado de forjá-la com as próprias mãos, que valoriza o sofrimento de fabricar algo que o sentido ultrapasse a compreensão humana.
Um livro não traz apenas as mensagens que suas palavras carregam. Há para o verdadeiro artista algo muito maior que isso, nas entrelinhas da obra.
Há numa pintura, um sem número de cores imperceptíveis aos olhos, mas que o artista as coloca cuidadosamente em seus lugares e só a própria alma dele saberá reconhecê-las.
Em cada acorde de uma composição musical há uma sofreguidão, uma avidez por fabricar o maior, que é finalmente tida como prazer no momento em que tal obra de arte é apreciada pelos ouvidos do próprio artista.
E nos gestos que o ator construir sempre deverá haver a compreensão de que aquilo que está no palco é algo acima dele, a personagem seja ela quem for, é sempre mais importante que a figura e a estética do corpo do ator. Há na construção de uma personagem um sentimento inexplicável de descontentamento com qualquer resultado que não oculte a sua "auto-figura", há uma corrida por entre espinhos, prazerosa, beirando o sadismo, em busca da figura que deverá ser a nova inquilina do corpo do ator. Há um desprezo às suas maneiras, aos seus trejeitos. A ator deve nunca amar mais a sua figura debaixo dos holofotes do que a figura absoluta da personagem. É um "desamor" a si próprio substituído pelo amor à alguém que nunca se viu e em verdade nunca existiu. É sofrer pra criar e amar o que cria.

É a arte de se colocar como serviçal daquilo que mais ama.
Amar a arte é ter a humildade, o desprendimento necessário para nunca encontrá-la perfeita ao terminá-la e se dar o trabalho de começar de novo, sempre rumando a perfeição, embora carregando na alma a certeza de que jamais a alcançará.
É colocar-se mediante o julgo alheio, estando sujeito a todas as formas de críticas e mesmo assim entregar-se.

Se amar pode ser afirmação da existência de amor, esse antes de mais nada é negar.
Amar é ser um tanto quanto menos egoísta ou ganancioso.
Ama a arte aquele que a coloca acima de si próprio.
E a faz com excelência aquele que a ama.


(Peço perdão aos estudiosos de linguística e etimologia que consideraram uma ofensa à língua, a minha análise da palavra amor, como disse, essa é livre de regras e foi criada apenas por mim e minha mente libertinosa)

Música Livre - Consciência - Galdino